quinta-feira, 15 de maio de 2008

LIBERAÇÃO SEXUAL

Então chega o momento em que a alma se aquece e as contrações involuntárias se alongam por compassados segundos। Ah, o relaxamento profundo, o faiscante brilho no olhar e o incontornável sorriso no rosto। A deliciosa sensação do tempo que pára e problemas que somem। Pois a desejada oportunidade de retornar sempre ao prazer, sem culpas nem traumas, está agora ao alcance de uma geração inteira de brasileiros। Pela primeira vez, o reconforto do sexo é algo igualmente acessível a homens e mulheres, finalmente libertados da moral católica, das convenções sociais e de uma repressão histórica. Antes encarado como um prêmio da relação amorosa, a realização do desejo passou a ser direito de uma juventude que se inicia mais cedo, tem mais parceiros e se casa mais tarde.“A grande revolução é feminina”, diz a psiquiatra da Universidade de São Paulo (USP), Carmita Abdo. “Elas fazem sexo sem estar apaixonadas.” Coordenadora do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, o primeiro trabalho completo sobre o tema, que ouviu cerca de sete mil pessoas em 20 capitais, em 2004, Carmita antecipou a ISTOÉ os novos resultados da atualização dessa pesquisa. E eles mostram que uma revolução está em curso. Veja o caso das meninas: em 2004, a moça que tinha entre 18 e 25 anos havia perdido a virgindade aos 17. Atualmente, ela se inicia sexualmente aos 15 anos, a mesma idade dos rapazes. Foi a mudança acelerada no comportamento delas que ajudou a modificar um costume deles. No caso dos homens, virou coisa de antigamente começar a vida sexual com garotas de programa. Consolidou-se a tendência de que a primeira relação aconteça entre colegas de escola, vizinhos ou amigos.Paralelamente, o brasileiro vem adiando cada vez mais o casamento. Dados do IBGE mostram que a troca de alianças acontece, em média, aos 28,5 anos – eles, aos 30,2 anos e elas, com 26,8. Há apenas uma década, a geração anterior se casava, em média, com 26,1 anos. Nesta nova perspectiva de vida, em que o jovem transa pela primeira vez mais cedo e se casa mais tarde, é natural uma multiplicidade de parceiros. Mudou, portanto, a acepção do que antes se chamava “ficar”."Ficar virou sinônimo de fazer sexo”, explica Carmita Abdo. “O jovem, hoje, fica com alguém e não estabelece nenhum tipo de compromisso ou vínculo. O sexo virou um prazer que ele vê como um direito e não como um prêmio de uma história afetiva construída.” Esse é o mais novo traço da liberação sexual que ocorre entre os jovens.O paulista Ricardo Gazarra Pizone é um exemplo dessa geração. Solteiro, ele mora com os pais e sai à noite quatro vezes por semana. Diz que nunca voltou para casa sem “beijo na boca”. “Num domingo do mês passado, beijei 19 mulheres e transei com três em uma festa”, garante Ricardo, comerciante de 25 anos, que já freqüentou um motel com três garotas. Em 2005, em um carnaval fora de época, ele afirma ter beijado 53 meninas em cinco horas – uma a cada dez minutos, em média. “Não sinto nenhuma culpa por agir assim, porque jogo aberto. Digo antes que não quero nada sério.”De acordo com o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, os homens entre 18 e 25 anos afirmam ter 4,2 parceiras sexuais durante um ano. Parceira sexual é mais do que uma transa de apenas uma noite, é alguém com quem o encontro teve alguma seqüência. Já as mulheres dizem ter 1,6 parceiro sexual anualmente. Se imaginarmos que essa garota começa a vida sexual aos 15 anos e se casa aos 27, ela poderá ter 19 parceiros até trocar alianças. Um quadro bem diferente do passado. Quarenta anos atrás, a moça transava pela primeira vez aos 22 anos com o namorado com quem se casaria ou, no máximo, com alguém que imaginasse ser o príncipe encantado que a levaria ao altar. Segundo os especialistas, nunca em nenhuma época da era contemporânea o sexo esteve tão desvinculado do casamento.Ricardo diz ter beijado 19 meninas e transado com três numa única festaO curioso é que essa geração nasceu e/ou cresceu diante da propagação da Aids, mas a doença não pôs um freio na multiplicidade de parceiros, como se imaginava. O jovem domina plenamente os meios contraceptivos – embora nem sempre os utilize corretamente – e a liberdade sexual cresce de forma avassaladora. “Foi mal veiculada e mal captada a mensagem sobre a Aids. Enquanto se divulgava “não transe sem camisinha”, a garotada entendia “use o preservativo e faça sexo”. Foi um convite para o sexo sem preocupação”, opina Carmita, da USP.O ambiente erotizado da juventude de hoje favorece essa ebulição sexual. No fim dos anos 80, a nudez nas novelas e a genitália exposta no Carnaval arrepiavam muitas famílias e geravam polêmica. Hoje, ambos ganham closes cada vez mais ousados na tevê. Na internet, o jovem encontra sexo protegido, de fácil acesso e, por meio dela, também agenda encontros. Mais: para dar o toque de fantasia, uma conotação festiva, a esse encontro, pode recorrer aos sex shops, que deixaram o submundo e estão cada vez mais visíveis nas esquinas das grandes cidades.Com tantas possibilidades, não passa pela cabeça dessa juventude unir-se a outra pessoa para ter atividade sexual ou se libertar dos pais, como ocorria antes. Com isso, o casamento deixou de ser a espinha dorsal em torno da qual se desenha uma trajetória. A jornalista paulista Denise Molinaro, 31 anos, recebeu cinco pedidos de casamento (aos 19, 22, 26, 27 e 30 anos) e recusou todos. “Quero casar somente depois dos 32”, afirma ela. “Minha mãe fica horrorizada, mas sempre pensei assim. Tenho de crescer profissionalmente, viajar, conhecer lugares e pessoas antes.”

Resumo: sexo livre, sem compromissos, não atrelado ao casamento e a nenhuma relação estável. Realmente nesse caso o que importa é quantidade e não qualidade de relacionamento. O ambiente erotizado evidentemente estimula esse tipo de comportamento. Mas culpar apenas televisão e Internet é fácil. E quem considera legal observar tudo isso e apóia filhos e filhas a terem essa atitude de encarar o sexo dessa maneira? É simplesmente hipócrita atribuir aos meios de comunicação a responsabilidade de tudo. É evidente que só se divulga porcaria em geral na programação televisiva e na web, mas quem consome isso por livre e espontânea vontade é totalmente responsável por seus atos. E quem bate palmas e facilita o acesso para crianças, adolescentes e jovens tem grande parcela de participação nisso tudo. É fundamental abandonar o cinismo nesse assunto.


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